Monday, October 14, 2002

AGASA 100 - Pobres mendigos

Li essa pequena matéria sobre mendigos franceses, e fiquei entristecido com a situação dos coitadinhos (até créditos tem viu Kenjiro)
Acho que qualquer comentário do meu ser vai estragar o que está bom, então paro por aqui, deliciem-se

GENTE FINA É OUTRA COISA
Janer Cristaldo

Mendigo francês é gente fina. Se tiver mais de 25 anos, tem direito a receber mensalmente, durante um ano, o RMI (revenu minimum d'insertion), equivalente a mais de cinco salários mínimos no Brasil. Como abrigo e comida são garantidos pelos serviços assistenciais, este cidadão pode perfeitamente dar-se a luxos como um Beaujolais ou Côte du Rhône, que no Brasil conferem status até mesmo a gente rica.

Diariamente, um ônibus especial da prefeitura recolhe os mendigos de seus abrigos, pela manhã, e os deposita nos pontos de mendicância. À tardinha, o ônibus volta para recolhê-los. Enquanto o francês que trabalha tem de ir até um ponto de ônibus para embarcar, este ônibus especial - com a metade inferior das janelas em vidro fumê, para preservar a privacidade do ilustre passageiro - pára no ponto de cada mendigo, para embarcá-lo.

Assim, se você estiver fazendo turismo às margens do Sena e se sentir comovido com uma mão estendida, antes de pôr a sua no bolso lembre-se que aquele ser comovente recebe cinco vezes mais do que um operário braçal brasileiro. As divisas que sua mauvaise conscience de turista endolarado fizer desembolsar, antes de ser esmola são "argent de poche", como dizem os franceses.

Mas atenção: se você passar em Paris em julho ou agosto, quase não verá mendigos na cidade. Eles desceram para a Côte d'Azur, rumo ao sol. Enquanto você confere os trocados para saber se pode presentear-se com alguns dias em Cannes ou Nice, eles estarão curtindo o verão na Croisette ou Promenade des Anglais. Se você tiver dinheiro para chegar lá, eles certamente lhe oferecerão algum dos vários jornais publicados por suas associações de classe. Certa vez comprei um deles, Le Réverbère. Diagramação ágil, policromia, bom texto. Trazia inclusive matéria assinada pelo "correspondente em Nova York". Gente fina é outra coisa.

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