Friday, February 17, 2012

:: Coisa de criança? ::

Se tem algo que me deixa desgotoso, para não dizer irritado, é ouvir alguém dizer "ah, video game é coisa de criança." OK, video game foi concebido como entretenimento puro e simples. Jogos para crianças e adolescentes, acredito eu. Entretanto com o passar dos anos isso se tornou algo mais. Não estou falando das pessoas que ganham dinheiro criando os jogos (apesar que isso também conta). Estou falando de quem ganha dinheiro ou prêmios (que em alguns casos são equivalente a $$$) jogando.

Não vou me aprofundar falando de todos os jogos que tenho conhecimento, que são utilizados em torneios, disputas, campeonatos, etc. Vou tomar como exemplo apenas o meu preferido: Street Fighter.

A primeira versão foi criada em 1987. Teve algum sucesso, mas não tanto quanto seu sucessor, Street Fighter 2. Esse sim lotava fliperamas (ou Arcades, como são chamados em inglês). Depois vieram as versões para consoles caseiros (SNES, Mega Drive, 3DO, Playstation, etc) e em seguida... OS TORNEIOS.

Mas paremos um pouco para pensar/lembrar. Comecei a jogar Street Fighter 2 no "fliperama do alemão", que oficialmente era chamado de Firefox, em Santa Maria-RS. Posteriormente outros fliperamas da cidade adquiriram máquinas do mesmo jogo, fossem elas piratas ou não ;) e a febre do jogo espalhou-se. Suponho que não tenha sido muito diferente em outras cidades do Brasil e do mundo.

Com a "febre" espalhada pela cidade, formávamos filas nos fliperamas (seja no alemão, no "véio Bel", no Tron ou Underground) para desafiar quem estivesse jogando. O pessoal jogava/treinava furiosamente, sempre tentando gastar a menor quantidade de fichas possível e ficar "dominando" a máquina por mais tempo. Houve vezes que no fliperama do véio Bel passei a tarde inteira, até cair a noite, sendo desafiado. Sim, perdia lutas. Mas mais ganhava do que perdia. Claro, quem realmente ganhava com as contendas eram os donos dos fliperamas :P

Então veio o SNES com sua versão do SF2 e pronto, surgiram os mini-torneios nas locadoras de video game. Desses ganhei a maioria dos que participei, outros foram vencidos por amigos meus, que treinavam junto comigo, lá em casa. Gastávamos horas e horas jogando juntos, treinando, melhorando. Então vieram dois ou três torneios um pouco maiores. Maiores em quantidade de participantes, mas principalmente na premiação. Os mini-torneios valiam lanches ou locações. Esses maiores tiveram prêmios em dinheiro. Nada muito grandioso, mas ja eram melhores prêmios. Mas não, não venci nenhum dos torneios maiores. Quem venceu (não lembro se foram todos ou dois deles) foi o Gustavo Aita Dri (na época conhecido como Frangão).

Nosso nível de jogo evoluiu tanto (a turma com quem eu trinava e a turma com quem o Frangão treinava) que chegou ao ponto do resto da molecada (ou caras um pouco mais velhos) não se inscreverem nos mini-torneios se vissem que nossos nomes estavam na lista de inscritos. Tivemos que utilizar a tática de só chegar nas locadoras 5 minutos antes do início dos torneios, fazendo a inscrição no último momento hábil. E sim, seguíamos vencendo.
Posteriormente esses torneios acabaram (ou a gente só não ficou mais sabendo deles) e passamos a nos "digladiar". Nossa turma juntou-se a deles e jogávamos juntos nas noites de sexta-feira ou sábado.

Éramos os "maiorais" em Santa Maria? Sim, sem dúvida alguma. E com certeza, achávamos que sabíamos tudo o que se poderia saber de Street Fighter 2 (ou suas versões posteriores). Mas... nosso mundo era pequeno. Não existia Internet, jogos online, etc. Nenhum de nós, dada uma ou outra rara exceção, havia enfrentado alguém de outra cidade/estado/país.

O tempo passou, a internet chegou até nós. Nesse meio tempo foram criadas outras versões de Street Fighter: SF Alpha (ou Zero), SF III, etc. E foi graças a essas versões e à Internet que tomei conhecimento de torneios que ocorreram no Brasil, mas mais importante ainda, no exterior. Foi então que "vi a luz". Nós éramos apenas "iniciantes de alto nível" no que diz respeito a Street Fighter. Depois de ver Daigo Umehara, Justin Wong, Alex Valle, Tokido e outros jogarem, vi que nós realmente não "sabíamos tudo".

Hoje, jogando Super Street Fighter IV Arcade Edition e acompanhando/assistindo os vídeos de torneios internacionais (e alguns nacionais) vejo o quão "para trás" a gente (pessoal que jogava comigo) estava/está.

Voltando ao assunto inicial... uma boa parte das pessoas participando dos torneios de SF são patrocinados, ou seja, são pagos para jogar. Muito provavelmente não ganham rios de dinheiro. Mas ganham pra jogar. Os caras treinam diariamente, durante horas. E não apenas "saber os golpes e contra-ataques". Assistindo os videos, lendo a respeito, damo-nos conta de que não é apenas um jogo de luta. É um combate que envolve raciocínio rápido, adaptabilidade, reação, planejamento. Eu compararia (bem ou mal) a um jogo de xadrez. Tem de se planejar o que se vai fazer, preparando-se para várias possibilidades de reação/contra-ataque do adversário, etc.

Talvez só quem já jogou SF, competitivamente ou não, consiga assistir uma partida desses grandes torneios e compreender tudo o que se passa ali naqueles pouco menos de 5 minutos (se a luta durar 3 rounds).

E estou falando apenas de Street Fighter. Imagine o que daria para analisar/pensar sobre os outros jogos.

Mas sim, há jogos que são penas "coisa de criança" ;)

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